Este texto é a continuação da reflexão que pode ser acessada clicando aqui: O amor como instrumento de elevação espiritual (Parte I)
Entender o amor como instrumento de elevação espiritual exige, antes de tudo, que nos debrucemos um pouco mais sobre o que significa estar espiritualmente elevado, portanto sobre o que é esperado pelas forças superiores de cada ser humano em suas experiências encarnatórias.
As primeiras pistas sobre isso nos são dadas pelas diversas doutrinas religiosas. As religiões tem, em geral, por fundamento essencial fazer o religamento da humanidade com a grande força criadora do universo, Deus. Em quase todas as teogonias e cosmogonias dos diversos sistemas mitológico-religiosos, este ser criador primordial pertence à uma dimensão muito afastada da humanidade. Muitas vezes esta separação é fruto da degradação da humanidade após a criação, não mais sendo digna de contemplar a verdadeira face de Deus.
Mas, se Deus se manifesta através do amor, como podemos ter como ponto de partida para nossas concepções espirituais, que nos elevariam de nossa condição mundana, um conceito tão pouco amoroso?
A separação entre a humanidade e Deus (sua origem primeira) não é, necessariamente, uma queda, um castigo ou maldição. Talvez a melhor forma de enxergar este processo seja como um fenômeno natural, como parte da criação do universo, resultante da própria natureza da criação divina e, de certa forma, como expressão da função dos seres humanos nos planos da criação.
O mundo não foi feito para os seres humanos desfrutarem ao seu bel-prazer, ao contrário do que afirmam muitas das escrituras consideradas sagradas. O mundo foi feito por e para Deus, através de sua natureza exploratória.
Nós, seres humanos, somos simplesmente (com as dores e delícias que este conceito evoca) uma forma de Deus conhecer e experienciar a totalidade de sua criação, explorando ao ponto máximo suas próprias leis, equações e algoritmos, conhecendo cada possível interação entre os inumeráveis elementos componentes do universo, reunindo todas as possibilidades de manifestação em si. Em outras palavras, a trajetória da humanidade é reflexo da própria trajetória divina de autoconhecimento e auto aprimoramento.
A “queda” do Homem, embora possa nos trazer um sentimento de isolamento, frustração e falta de sentido (o que muitas vezes nos faz desviar da tarefa de reconexão com Deus para nos conectarmos a outras fontes de sentido arbitrárias), é um mal necessário para o cumprimento de nossa função na criação, ou talvez um efeito colateral deste processo.
Se pensarmos a partir de um ponto de vista universalista, nos enxergando como partes integrantes do grande plano ou sistema divino, essa dor não tem razão de existir. Ela existe apenas enquanto experiencia de indivíduos e dos grupos de indivíduos, que, ao não compreenderem seu papel na criação, projeta para si e em si um sentimento de solidão e vazio. A falta de sentido na vida, tema tão recorrente na história humana e que diz muito mais sobre nossa percepção do fato do que sobre o fato em si.
Saber que somos uma ferramenta divina é, ao contrário do que muitos poderiam pensar, extremamente libertador. A falsa ideia que os humanos são a peça central e insubstituível na criação de Deus, e que de alguma forma nós somos a razão de tudo o que foi criado, ao não ser correspondida pelas situações da vida, causa este sentimento de não encontrar seu lugar no mundo, de não saber ou não ser capaz de viver a vida como deveria. Por que, inevitavelmente, nos depararemos com a fragilidade dessa ideia antropocentrada extremista.
Se somos parte de um infinito sistema emanado a partir de Deus, assim como as galáxias e as estrelas, os anjos e as divindades, as plantas e os animais, os átomos e as partículas, o melhor que podemos fazer, como boas engrenagens do sistema divino, é cumprirmos nossa função específica, ou seja, experienciar a criação em sua amplitude. Então começaremos a compreender que todos somos parte dos planos divinos e, por que não, do próprio Deus, e todos estamos conectados numa longa teia de correlações infinitas. E saberemos que o amor é a essência do universo.
Neste ponto é onde podemos começar a correlacionar as coisas. Amor e elevação espiritual estão intimamente ligados, porque a segunda é a extensão natural do primeiro. Se o amor é a força anímica usada por Deus para a manifestação de sua criação e nossa missão é exatamente experienciar a totalidade desta mesma criação, podemos entender que nossa missão divina só pode ser atingida através do amor.
Na terceira e última parte dessa reflexão pretendo apresentar mais algumas pistas de como amor e elevação espiritual se relacionam.
Até lá.
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