segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Breve história da fundação da Umbanda


No dia 15 de novembro de 1908, na sede da Federação Espírita de Niterói, um jovem de 17 anos chamado Zélio Fernandino de Moraes, ao subverter as regras do ritual que seria realizado naquela noite, acabaria por dar inicio uma nova religião que viria a ser chamada de Umbanda.


Ainda na adolescência, o jovem Zélio de Moraes começou a preocupar sua família ao começar a apresentar um comportamento estranho. Por vezes sua personalidade mudava drasticamente, ora falando e se comportando como um indígena, ora como um senhor de muita idade.

Este comportamento fez com que seus pais buscassem ajuda médica para resolver o problema. Porém, após diversas consultas com psiquiatras, não foi identificada a causa para este comportamento, sendo que os médicos afirmavam que, do ponto de vista neurológico, não havia nada de errado com o jovem.

Orientados por sua formação católica, os pais de Zélio o levaram a um padre para que fosse exorcizado, acreditando ser uma manifestação espiritual negativa. Da mesma forma que acontecera com os médicos, os padres que analisaram o jovem não encontraram indícios de possessão demoníaca, embora também não pudessem explicar aqueles estranhos fenômenos.

Por fim, o jovem Zélio foi encaminhado para a Federação Espírita de sua cidade, em busca de explicações para o que acontecia. Ao chegar na sede da Federação, Zélio foi convidado a se sentar na mesa de trabalho, mas logo se levantou, contrariando as orientações ritualísticas da casa, e disse faltar algo naquela mesa. Foi até o jardim e trouxe uma rosa branca, que depositou sobre a mesa¹.

Dando-se início aos trabalhos, começaram a manifestar-se nos médiuns espíritos com fala enrolada, que se apresentaram como índios e antigos escravos africanos, que imediatamente foram comandados pelo dirigente da casa para se retirarem dos trabalhos, devido ao seu suposto atraso cultural.

É então que Zélio, assumindo a personalidade indígena que lhe era recorrente se levante e pergunta ao Presidente da Federação: “por que expulsam estes espíritos sem nem lhes escutar as palavras que tem a oferecer?”. Questionou ainda o por que os consideravam atrasados devido às suas cores e posições sociais enquanto vivos”.

Na tentativa de por fim ao episódio, um dos responsáveis pela mesa questionou o espírito desconhecido incorporado em Zélio:Afinal, porque o irmão fala nesses termos, pretendendo que esta mesa aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados?

A resposta manifestada através de Zélio foi: Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho (Zélio), para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos encarnados e desencarnados”.

O médium clarividente que acompanhava a sessão² então lhe questionou: “Por que fala como se fosse um deles se eu lhe vejo manifestado com vestes sacerdotais? E qual é o seu nome, irmão?”

A resposta a este questionamento foi: “O que vê em mim são restos de uma encarnação na qual fui o Frei Gabriel de Malagrida, queimado na fogueira da inquisição como herege. Mas em minha última encarnação, Deus me deu a graça de ter encarnado como índio brasileiro. E se querem saber meu nome, que seja este, Caboclo das 7 Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim”.



No dia seguinte, a casa de Zélio recebeu membros da Federação Espírita, parentes, amigos e uma multidão de desconhecidos, curiosos para presenciar o que aconteceria. Ás 20h o Caboclo das 7 Encruzilhadas se manifestou em Zélio e declarou que a partir daquele momento, uma nova religião se iniciava, na qual os espíritos de índios e de negros escravos poderiam trabalhar ajudando seus irmãos encarnados, independentemente da sua cor ou posição social. O grupo fundado naquela noite pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas recebeu o nome de Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois assim como Maria acolheu a Jesus mesmo sabendo o grande sacrifício que lhe seria exigido, a Tenda acolheria aos que a ela recorressem em busca de ajuda, sem qualquer julgamento.

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1. Muitos historiadores e estudiosos de umbanda afirmam que este momento marca a diferenciação da Umbanda do Espiritismo, pelo uso de elementos físicos para serem energeticamente manipulados.

2. Naquela época era parte das sessões espiritas sempre ter um médium clarividente nas sessões para poder confirmar a manifestação dos espíritos e se estes aparentavam como diziam ser.

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