Acredito
que todo mundo que já teve contato com a Umbanda em algum momento
ouviu falar em direita e esquerda. Mas o que vem a ser isso?
Em
todas as mitologias e cosmogonias tradicionais existe uma separação
entre um arquétipo divino voltado aos aspectos analíticos,
racionais e ordeiros de compreender o mundo e, de outro lado, um
arquétipo divino mais intuitivo, emocional e caótico.
O primeiro arquétipo costuma estar ligado ao comedimento, ao respeito às regras, à exaltação das virtudes humanas, e à uma caminhada mais harmônica de expressão de sua verdade. Já o segundo costuma estar relacionado a subversão das normas impostas, quebra de padrões, tendencia aos exageros e aos vícios, além de uma certa dose de provocação.
Para
os gregos temos Apolo e Dionísio, para os nórdicos temos Baldur e
Loki, e para os iorubanos¹ Oxalá e Exú.
Princípios
estruturantes e desestruturantes, unidade e diversidade, centro e
periferia, Oxalá e Exú comungam dos primórdios, do início do
mundo, da natureza intraduzível de Olorum, a divindade suprema.
Estamos
falando de duas formas de ser e agir distintas mas complementares: os
movimentos de expansão (misericórdia) e restrição (rigor), tão
trabalhados nos estudos sobre o misticismo judaico sintetizado nos
ensinamentos da Cabala. Mas o que isso tem haver com a Umbanda?
No
nosso caminho místico-religioso dentro da religião passamos
necessariamente pelos dois movimentos, hora iremos trabalhar com a
luz, hora com as trevas. Essas forças representam, respectivamente,
a direita e a esquerda da Umbanda.
Ao
contrário do que muita gente entende, a esquerda não promove o mal.
Quando dizemos que as entidades da esquerda lidam com as trevas,
estamos falando no trabalho de esgotamento e decantação das
energias nocivas que todo ser humano carrega dentro de si, etapa
necessária para que a caminhada em direção há luz possa
acontecer. Enquanto a direita exalta o bem e as virtudes, a esquerda
atua para negar o mal e os vícios.
Para
facilitar o entendimento, usarei uma associação de palavras
relacionadas aos dois princípios.
- DireitaEsquerdaExpansãoRestriçãoExternoInternoConscienteInconscientePrincípio masculinoPrincípio femininoSolLuaClaridadeEscuridãoRacionalInstintivoOrdemCaosCéuTerraAfirmar o bemNegar o malFortalecer as virtudesDominar os Vícios
Dessa
forma, direita e esquerda são força fundamentais, opostas porém
complementares e interdependentes. O equilíbrio das duas polaridades
é o que garante o universo se mantenha em pleno funcionamento.
Para
finalizar, vale lembrar do conceito taoísta do Taiji, mas conhecido
por suas polaridades, Yin e Yang, que nos ensina que em uma
polaridade existe a semente da polaridade oposta e que uma pode se transformar na outra.
Lembremos ainda que a figura do Taiji deve ser compreendida como estando em movimento, alternando-se eternamente numa dança sagrada do equilíbrio dos princípios divinos.
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1. A
religiosidade iorubana é a principal fonte de elementos místicos, mágicos e simbólicos africanos presentes na Umbanda.
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