quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Direita e Esquerda na Umbanda


Acredito que todo mundo que já teve contato com a Umbanda em algum momento ouviu falar em direita e esquerda. Mas o que vem a ser isso?

Em todas as mitologias e cosmogonias tradicionais existe uma separação entre um arquétipo divino voltado aos aspectos analíticos, racionais e ordeiros de compreender o mundo e, de outro lado, um arquétipo divino mais intuitivo, emocional e caótico.

O primeiro arquétipo costuma estar ligado ao comedimento, ao respeito às regras, à exaltação das virtudes humanas, e à uma caminhada mais harmônica de expressão de sua verdade. Já o segundo costuma estar relacionado a subversão das normas impostas, quebra de padrões, tendencia aos exageros e aos vícios, além de uma certa dose de provocação
.

Para os gregos temos Apolo e Dionísio, para os nórdicos temos Baldur e Loki, e para os iorubanos¹ Oxalá e Exú.

Princípios estruturantes e desestruturantes, unidade e diversidade, centro e periferia, Oxalá e Exú comungam dos primórdios, do início do mundo, da natureza intraduzível de Olorum, a divindade suprema.

Estamos falando de duas formas de ser e agir distintas mas complementares: os movimentos de expansão (misericórdia) e restrição (rigor), tão trabalhados nos estudos sobre o misticismo judaico sintetizado nos ensinamentos da Cabala. Mas o que isso tem haver com a Umbanda?

No nosso caminho místico-religioso dentro da religião passamos necessariamente pelos dois movimentos, hora iremos trabalhar com a luz, hora com as trevas. Essas forças representam, respectivamente, a direita e a esquerda da Umbanda.

Ao contrário do que muita gente entende, a esquerda não promove o mal. Quando dizemos que as entidades da esquerda lidam com as trevas, estamos falando no trabalho de esgotamento e decantação das energias nocivas que todo ser humano carrega dentro de si, etapa necessária para que a caminhada em direção há luz possa acontecer. Enquanto a direita exalta o bem e as virtudes, a esquerda atua para negar o mal e os vícios.

Para facilitar o entendimento, usarei uma associação de palavras relacionadas aos dois princípios.

Direita
Esquerda
Expansão
Restrição
Externo
Interno
Consciente
Inconsciente
Princípio masculino
Princípio feminino
Sol
Lua
Claridade
Escuridão
Racional
Instintivo
Ordem
Caos
Céu
Terra
Afirmar o bem
Negar o mal
Fortalecer as virtudes
Dominar os Vícios

Dessa forma, direita e esquerda são força fundamentais, opostas porém complementares e interdependentes. O equilíbrio das duas polaridades é o que garante o universo se mantenha em pleno funcionamento.

Para finalizar, vale lembrar do conceito taoísta do Taiji, mas conhecido por suas polaridades, Yin e Yang, que nos ensina que em uma polaridade existe a semente da polaridade oposta e que uma pode se transformar na outra. 


Lembremos ainda que a figura do Taiji deve ser compreendida como estando em movimento, alternando-se eternamente numa dança sagrada do equilíbrio dos princípios divinos.

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1. A religiosidade iorubana é a principal fonte de elementos místicos, mágicos e simbólicos africanos presentes na Umbanda.

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