A
Umbanda é uma religião multimatricial de caráter sincrético,
surgida em solo Brasileiro no começo do século XX. Ao longo de sua
história, a religião se moldou de acordo com os diversos grupos com
os quais interagiu.
Não
é a única religião nascida no Brasil, nem é a mais antiga. Vários
cultos e religiões dividem com a Umbanda sua nacionalidade, como a
Pajelança, o Toré, a Jurema (Catimbó), o Batuque, o Tambor de
Mina, o Babaçuê, a Encantaria, o Terecô, o Espiritismo
(originalmente uma doutrina de cunho cientificista), os Candomblés,
o Omolocô, dentre tantas outras. Vale desatacar também as Macumbas,
expressões religiosas populares que foram absorvidas pela Umbanda
após sua formalização.
O
que se destaca na Umbanda é o fato de ela ser bastante abrangente
territorialmente, diferente da maioria dos cultos citados
anteriormente, que são regionais. Esse fato faz com que a Umbanda
absorva, em cada território em que se manifeste, elementos da
cultura e religiosidade locais.
As
diferenças socioculturais presentes nas diferentes regiões do país,
somadas ao fato de as bases fundamentais da Umbanda serem
provenientes de sistemas religiosos diversos, com fundamentos muitas
vezes contrastantes, gera no interior da religião sua principal
característica, a diversidade. Seja de ritos, seja de denominações,
seja no número (ou na existência) de Orixás presentes no congá,
ou ainda na incorporação ou não destes, seja nos toques do
atabaque (ou na ausência destes), seja nos diversos elementos
manipulados durante as giras, seja na periodicidade destas.
É
tanta diversidade que, por questões didáticas, talvez fosse mais
fácil falarmos de Umbandas, Tradições de Umbanda, ou Cultos de
Umbanda, no plural mesmo, para não corrermos o risco de apagar as
diferenças nas formas de vivenciar esta religião.
E,
se pensarmos bem, não poderia ser diferente. Qual forma melhor de
representar a riqueza cultural do país que uma religião ricamente
diversa?
Aqui
cabe uma breve confissão sobre este texto: ele só consegue
representar a minha visão sobre a Umbanda, resultado tanto da minha
vivência quando dos meus estudos e reflexões sobre a religião. O
mesmo vale para qualquer obra umbandista: ela sempre vai refletir a
visão da pessoa que escreveu e da tradição de Umbanda que esta
pessoa segue. Nenhuma obra é universal dentro de uma religião tão
diversa e mutável como a Umbanda.
Agora,
voltando ao assunto, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a
diversidade dos cultos de Umbanda não é um ponto de fragilidade, em
si mesma. Antes de tudo, a diversidade é necessária, reflexo da
complexidade social, histórica, cultural e política do País. Se a
Umbanda visa falar aos corações dos humildes e necessitados, como
nos ensina o Caboclo das 7 Encruzilhadas, ela precisa falar muitas
línguas, pois os necessitados não são todos iguais.
Não
estou negando os problemas resultantes de falta de unidade, nem que
existam rivalidades irreconciliáveis entre algumas tradições,
estou apenas apontando que isso tem mais relação como nossa
dificuldade em enxergar como válida a experiência do outro, de
reconhecer a experiência do outro como sendo tão boa quanto a
nossa, do que com a diversidade em si. Nas palavras do grande Caetano
Veloso, “Narciso acha feio o que não é espelho”.
Experimentemos
olhar para a diversidade com olhos não enviesados pelo preconceito,
e veremos que ela só fortalece o sistema religioso umbandista. Novos
pontos de vista, novos questionamentos, novos desafios e novas
perspectivas de interpretações dos mesmos fatos não são coisas
negativas quando se está aberto para a reflexão.
Compreender
isso é um ponto importante para darmos mais alguns passos para
entender nossa religião.
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