sábado, 11 de janeiro de 2020

Umbanda - uma religião genuinamente brasileira

A Umbanda é uma religião multimatricial de caráter sincrético, surgida em solo Brasileiro no começo do século XX. Ao longo de sua história, a religião se moldou de acordo com os diversos grupos com os quais interagiu.

Não é a única religião nascida no Brasil, nem é a mais antiga. Vários cultos e religiões dividem com a Umbanda sua nacionalidade, como a Pajelança, o Toré, a Jurema (Catimbó), o Batuque, o Tambor de Mina, o Babaçuê, a Encantaria, o Terecô, o Espiritismo (originalmente uma doutrina de cunho cientificista), os Candomblés, o Omolocô, dentre tantas outras. Vale desatacar também as Macumbas, expressões religiosas populares que foram absorvidas pela Umbanda após sua formalização.

O que se destaca na Umbanda é o fato de ela ser bastante abrangente territorialmente, diferente da maioria dos cultos citados anteriormente, que são regionais. Esse fato faz com que a Umbanda absorva, em cada território em que se manifeste, elementos da cultura e religiosidade locais.

As diferenças socioculturais presentes nas diferentes regiões do país, somadas ao fato de as bases fundamentais da Umbanda serem provenientes de sistemas religiosos diversos, com fundamentos muitas vezes contrastantes, gera no interior da religião sua principal característica, a diversidade. Seja de ritos, seja de denominações, seja no número (ou na existência) de Orixás presentes no congá, ou ainda na incorporação ou não destes, seja nos toques do atabaque (ou na ausência destes), seja nos diversos elementos manipulados durante as giras, seja na periodicidade destas.

É tanta diversidade que, por questões didáticas, talvez fosse mais fácil falarmos de Umbandas, Tradições de Umbanda, ou Cultos de Umbanda, no plural mesmo, para não corrermos o risco de apagar as diferenças nas formas de vivenciar esta religião.

E, se pensarmos bem, não poderia ser diferente. Qual forma melhor de representar a riqueza cultural do país que uma religião ricamente diversa?

Aqui cabe uma breve confissão sobre este texto: ele só consegue representar a minha visão sobre a Umbanda, resultado tanto da minha vivência quando dos meus estudos e reflexões sobre a religião. O mesmo vale para qualquer obra umbandista: ela sempre vai refletir a visão da pessoa que escreveu e da tradição de Umbanda que esta pessoa segue. Nenhuma obra é universal dentro de uma religião tão diversa e mutável como a Umbanda.

Agora, voltando ao assunto, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a diversidade dos cultos de Umbanda não é um ponto de fragilidade, em si mesma. Antes de tudo, a diversidade é necessária, reflexo da complexidade social, histórica, cultural e política do País. Se a Umbanda visa falar aos corações dos humildes e necessitados, como nos ensina o Caboclo das 7 Encruzilhadas, ela precisa falar muitas línguas, pois os necessitados não são todos iguais.

Não estou negando os problemas resultantes de falta de unidade, nem que existam rivalidades irreconciliáveis entre algumas tradições, estou apenas apontando que isso tem mais relação como nossa dificuldade em enxergar como válida a experiência do outro, de reconhecer a experiência do outro como sendo tão boa quanto a nossa, do que com a diversidade em si. Nas palavras do grande Caetano Veloso, “Narciso acha feio o que não é espelho”.

Experimentemos olhar para a diversidade com olhos não enviesados pelo preconceito, e veremos que ela só fortalece o sistema religioso umbandista. Novos pontos de vista, novos questionamentos, novos desafios e novas perspectivas de interpretações dos mesmos fatos não são coisas negativas quando se está aberto para a reflexão.

Compreender isso é um ponto importante para darmos mais alguns passos para entender nossa religião.

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