"Vou seguindo entre os espinhos,
sem sequer me arranhar.
Pois meu velho abre caminho
ou me leva pelo ar."¹
Conhecidos como os vovôs e vovós da Umbanda, os pretos velhos são a representação da sabedoria ancestral, da fé, da esperança, da humildade, e da paciência.
Representam os negros e mestiços de origem africana que, apesar da condição de escravizados, conseguiram chegaram à idade avançada. Também representam os idosos das comunidades quilombolas, nas quais se tentou recriar, na medida do possível, uma sociedade com os valores tradicionais de suas sociedades de origem na África².
Seu arquétipo traz uma dualidade desconcertante e provocadora, pois ao mesmo tempo que nos relembra as mazelas sofridos na situação de escravizados, nos revelam a força da fé inabalável na justiça e providência divinas. Mesmo no cativeiro se mantiveram senhores de seu mundo interior.
Os pretos velhos nos ensinam a trabalhar nossas dores e a dominar nosso coração para seguir adiante na jornada da vida. São símbolos da empatia, da fé inabalável na natureza bondosa da alma humana, e do amor incondicional pela criação divina.
"Eu chorei, sofri as duras dores da humilhação.
Mas ganhei, pois eu trazia Nanã ê no coração"³
Com sua simplicidade e afetuosidade conseguem transmitir mensagens de profundo conhecimento da condição humana.
Esta a linha é regida por pelos Orixás Nanã e Xapanã, divindades com culto muito antigo e ligadas aos mistérios mais profundos da natureza humana, incluindo o ciclo de vida, morte e renascimento. Por esta razão, nos auxiliam em nossa evolução espiritual, nos conduzindo para encontrar nossos aspectos mais divinos.
Que possamos nos aproximar da força dos pretos velhos e ser imantados por sua aura de paz, sabedoria, bondade e firmeza de caráter.
Adorê as Almas!
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1. Trecho da canção "Velhos de Coroa" de Sérgio Pererê.
2. Importante lembrar que os africanos trazidos para o Brasil são provenientes de diversos povos e nações, muitos inclusive adversários entre si, que tiveram suas identidades socioculturais suprimidas e suas diferenças apagadas. A rica diversidade de saberes foi reduzido para uma categoria homogeneizada caracterizada unicamente pela cor de pele.
3. Trecho da canção "Cordeiro de Nanã", original mas gravada pelo grupo Os Tincoãs.
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