Esta é a continuação da reflexão que pode ser acessada clicando aqui:Reflexão sobre a Preguiça (Parte I)
A partir da reflexão anterior, chegamos ao ponto de que a preguiça é um fenômeno psíquico através do qual o impulso de ação é ativamente limitado ou repelido.
Partindo do pressuposto da eficiência da psique humana, nenhum fenômeno psíquico é criado sem que haja necessidade para tal, pois representaria um gasto desnecessário de um recurso finito e que tem um objetivo específico, nossa individuação. Se nossa psique cria um mecanismo que age ativamente para impedir a ação, deve haver alguma razão.
Retomando a reflexão anterior sobre orgulho (pode ser acessada clicando aqui Reflexão sobre o Orgulho (Parte I) e aqui Reflexão sobre o Orgulho (Parte II)), assumirei que a preguiça também funcione como um mecanismo de defesa psíquica. Mas não uma defesa do cansaço em si, pois isso seria natural e até benéfico, mas de um desgaste imaginado ou pressuposto que não necessariamente está calcado na percepção do real ou do agora, ou que está superestimado.
Analisando como a preguiça age em mim, percebo que as situações em que a preguiça mais me afeta são exatamente aquelas nas quais eu precisaria me expor mais do que eu gostaria. Não é, necessariamente, a ação em si que estou evitando, e sim o envolvimento intelectual ou emocional com aquela questão e, eventualmente, precisar revelar meus valores, ideias e minha visão de mundo, me colocando numa posição de vulnerabilidade diante do mundo.
Aprofundando ainda mais, as situações mais críticas são aquelas que desafiam habilidades que considero que não tenho ou que sei que estão mal desenvolvidas. A preguiça parece ser, dessa forma, meu escudo contra o confronto com meus limites.
Nesse sentido, a preguiça parece exercer em mim o papel da inércia na mecânica dos corpos, uma força que me faz permanecer no estado atual, de não movimento. Por analogia, imagino que em outras situações a força da preguiça me mantenha em movimento contínuo, de forma que não consiga, de fato, parar para refletir sobre o que estou fazendo. Essa segunda manifestação costuma acontecer em aspectos específicos da minha vida, principalmente relacionados à práticas e estudos espirituais.
Acredito ser possível entender, então, a preguiça como sendo o reflexo do desequilíbrio da disposição para refletir, reavaliar e, caso necessário, modificar padrões, ideias e sentimentos. Neste sentido, acaba sendo uma peça chave nos processos de auto aprimoramento.
Se, como resultado lógico da reflexão posta, temos que a preguiça é uma força relacionada com nosso contato com nossos limites, uma espécie de guardiã dos nossos limiares, das bordas de nós mesmos, acredito que esta seja uma chave importante para como trabalhar essa energia.
Cruzar o limiar parece tentador, possibilita o contato com o desconhecido, com o que está além do véu, ao mesmo tempo que abre caminho para que nos percamos na multiplicidade de possibilidades (caos absoluto). Se há uma sentinela que protege essa passagem, precisamos aprender a lidar com ela, negociar nossas passagens, sempre precavidos contra as adversidades que possamos encontrar.