segunda-feira, 20 de abril de 2020

Reflexão sobre o Orgulho (Parte I)

Antes de iniciar a reflexão proposta, dois sentidos paradoxais sobre este tema me vieram a cabeça: em sentido negativo, orgulho como uma falha de caráter na qual algumas características dos indivíduos são demasiadamente exaltadas, sendo encarado como um pecado; e em sentido positivo, orgulho como sinônimo de resistência identitária, na qual características que sempre foram usadas para oprimir e reprimir grupos minoritários são ressignificadas e usadas para empoderamento dos membros destes grupos, sendo encarado neste caso como uma virtude.

Qual desses dois sentidos seria o verdadeiro? Seria possível definir o orgulho como sendo essencialmente bom ou essencialmente mal? Este me pareceu ser o primeiro aspecto para ser considerado nesta reflexão.

Como ponto de partida, observando como o Orgulho age em minha própria vida, tive a percepção que ele constitui uma armadura emocional, e como tal, sua função seria proteger algo que está em seu interior dos perigos (reais ou imaginários) oriundos do lado externo. Deste modo, e extrapolando minha própria experiência, o orgulho serviria para evitar o sofrimento emocional e sua origem seria a necessidade de segurança e estabilidade emocional.





Enxergar o orgulho como uma armadura apresenta um aspecto importante para esta reflexão: a ideia de que há algo de frágil que faz necessária a existência de uma estrutura de proteção emocional. Mas o que estaria sendo protegido pelo orgulho? O que de vulnerável está guardado em seu interior?

Uma primeira resposta seria que o orgulho está protegendo nossa essência, ou nosso Self, portanto a totalidade de nossa psiquê, e neste caso, ele teria uma função nobre e justa, pois, se nosso Self estiver fragilizado, dificilmente conseguiremos expressar e vivenciar quem realmente somos. Mas isso significaria reconhecer tanto que a essência humana é intrinsecamente frágil e vulnerável, quanto que o orgulho seria maior que nossa essência, a ponto de envolvê-la para lhe oferecer proteção. Nenhum dos pontos levantados me parecem verdadeiros.

Poderia ser, então, o ego que está sendo protegido? O ego pode ser entendido como o representante do nosso Self num nível inferior e também como o mediador da nossa consciência, o guardião daquilo que escolhemos conhecer e ignorar. Desta forma, me parece ser mais propício que ele, ao contrário do Self, necessite de proteções.

Seguindo este linha de raciocínio, o orgulho serviria para proteger nosso ego em seu processo de mediação da consciência, o que, de certa forma, também pode se visto como um aspecto auspicioso.

Mas essa ideia apresenta outro ponto a se considerado. Muitas vezes nos prendemos dentro de casa, cercados por cercas, alarmes e câmaras, em nome de uma falsa sensação de segurança, sem nos darmos conta que estamos nos deixando levar pelo pavor e deixando de viver as potencialidades que a vida “do lado de fora” pode nos proporcionar. Viver assombrado pelo medo, de forma que fiquemos enclausurados e constantemente apreensivos, não é nem de perto o que significa sentir-se seguro.

O orgulho, neste perspectiva, embora ofereça um certo grau de segurança emocional para nosso ego, também funciona como um fator de aprisionamento ou de limitação de movimento. Nosso ego, neste caso, terá dificuldades de realizar seu movimento de rumar em direção à sua potencialidade máxima (alinhamento com o Self), pois há uma barreira que impede este movimento de expansão.

Da mesma forma que sentimos a necessidade de protegermos nossas posses (casas, carros etc) motivados pela percepção de insegurança em nossa realidade, nosso ego cria proteções emocionais baseados na sensação de insegurança vivenciadas por nossa psiquê. Essa insegurança pode ter razões muitas vezes inconscientes, e o processo de formação e embrutecimento do orgulho, assim como de outras defesas psíquicas, muitas vezes não é percebido pelo indivíduo.

Chegamos aqui a um ponto central da reflexão. Independentemente dos motivos que levaram o ego a formar uma estrutura de proteção em torno de si, esta sempre terá um papel limitador de crescimento aliado à proteção oferecida. Assim, a dicotomia aparente no inicio da reflexão não é de todo real; o orgulho sempre manifesta em conjunto seu lado positivo e seu lado negativo. Toda vez que somos tomados pelo orgulho uma parte frágil do nosso ego foi atingida, o que faz a necessidade da proteção ser reforçada.

Na segunda parte desta reflexão, veremos algumas pistas se como trabalhar o orgulho no processo de autodesenvolvimento.


Até lá.

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